Música e alquimia têm muito em comum. Ambas são de tradição antiga e lidam com o mágico. A duas trabalham com elementos diversos e suas transformações e, mais que tudo, demandam conhecimento e paixão. Devem ter existido muitos alquimistas de pouca prática que morreram envenenados após uma mistura bizarra de substâncias no afã de provar o elixir da vida. Na música, a coisa não parece tão perigosa assim, mas boas transformações, daquelas em que metais inferiores viram ouro, são raras. Aí reside o grande mérito do primeiro trabalho do projeto Bossa Project. O sonho antigo de uma excelente dupla musical – Bettina e Eddy Marcos – em transfigurar canções pop de várias épocas e estilos, conferindo a elas uma cara brasileira, alegre e sofisticada, que só a bossa nova consegue dar. Experimentar coisas diferentes, como na alquimia, pode levar a resultados explosivos, como aconteceu no início dos anos 80, quando Louis Clarke conduziu a Royal Philharmonic Orchestra com peças clássicas ao ritmo da disco music na série Hooked on Classics. Ou na década seguinte (sem tanto alarde) quando o heavy metal do Mettalica foi executado pelo Apocalyptica, um quarteto de violoncelos. Essa alquimia musical nem sempre é fácil. No caso do Bossa Project, além de complicado, foi um feito inédito. A idéia foi tomando forma a partir de 2005, quando Bettina, cantora e professora de técnica vocal, conheceu Eddy Marcos, um violonista e maestro com uma carreira musical extensa, chegando a trabalhar com o cantor Fábio Jr. e Don Costa, arranjador e regente da banda de Frank Sinatra. “O trabalho de pesquisa foi detalhado,” Bettina conta. “Chegamos a trabalhar cerca de 80 músicas”. Catorze delas foram selecionadas para o homônimo álbum de estréia. A faixa de abertura já dá pistas de que fizeram a escolha certa de repertório. O violão de Eddy Marcos ao fundo, e sempre presente em todas as canções, pontua “Can’t Take My Eyes Off You”, um dos maiores sucessos de Frank Valli, com dezenas de covers posteriores, de Pet Shop Boys a Lauren Hill. A música seguinte, “Cry Me A River”, originalmente composta para Ella Fitzgerald e que também teve muitas versões, ganha aqui a sedosa voz de Bettina acompanhada do trompete de Walmir Gil. O Bossa Project consegue alegrar a melancólica “The Fool on the Hill”, dos Beatles, com uma cadência mais forte e a presença da cuíca tocada por Luiz Guello como se o morro da canção estivesse mais perto da gente. Ela volta mais adiante em “Moon River”, clássico de Johnny Mercer e Henri Mancini, quando o rio citado mais parece a Cidade Maravilhosa embalada pelo piano de Evaldo Soares. Outra em que a cuíca marca presença é “Nobody Does It Better”, tema do filme 007 – O Espião que Me Amava. Dá até para imaginar como seria a aventura no Brasil. Algumas faixas, como o jazz de Cole Porter “I’ve Got You under My Skin” ou mesmo a romântica “The Shadow of Your Smile” (ganhadora do Grammy em 1965), são fáceis de serem imaginadas como bossa nova. Ainda assim, o Bossa Project confere identidade própria às versões. Enquanto a primeira ganha ares de um Brasil jovial e ingênuo dos anos 60, a segunda é repertório certo de qualquer piano-bar de qualidade. Outras músicas, na grande maioria sucessos da década de 70, deram bem mais trabalho. “Foi um processo de desconstrução e reconstrução de arranjos”, Eddy confessa. “Tiveram algumas músicas que não entraram nesse repertório porque senti que nenhum arranjo feito para bossa nova caiu bem nelas. Pelo menos até agora”. “Could It Be Magic?”, hit de Barry Manilow, sofreu uma belíssima transformação com o contrabaixo de Itamar Collaço ganhando destaque. O mesmo aconteceu com “You Are Everything”, sucesso do duo Marvin Gaye & Diana Ross, e “How Deep Is Your Love”, dos Bee Gees. Esta última, uma das melhores do disco, Bettina consegue torná-la mais suave ainda, mais uma vez acompanhada de perto pelo contrabaixo. Outras que ganham muito no quesito suavidade são “Unbreak My Heart” (sucesso da cantora Toni Braxton), “Where Is the Love” (originalmente interpretada pelo dueto de Roberta Flack e Donny Hathaway) e “Per Amore” (a mais nova do repertório, lançada por Andrea Bocelli em 1997). Bossa Project, o disco, termina com o ótimo saxofone de Vitor Alcantara acompanhando Bettina em uma versão de “I will”, dos Beatles. Remete ao futuro e o que a dupla que comanda o Bossa Project planeja. “A idéia é estender o conceito nos próximos trabalhos”, Eddy revela, “e mostrar as possibilidades do gênero, que não é estagnado nem para poucos.”A bossa nova já foi usada na música pop de várias maneiras, agora é a vez de ela se utilizar do pop em muito bom proveito. Pelo menos na música, a transformação de outros metais em ouro deu certo.
Psicóloga, neuropsicologa, psicoterapeuta, formação pela Universidade Católica de São Paulo ,
pós graduação pela Fundação Getulio Vargas em Administração para Sistemas de Saúde,
pós graduação na Universidade de São Paulo em Psicologia e História ,
Formação em Experiência Somática www.traumatemcura.com.br
Clinica em São Paulo há mais de 30 anos e atualmente clinica on-line pelo WhatsApp, Meet, Zoom etc
bettinakorall@gmail.com
Pós graduação Especialização em Neuropsicologia no Einstein
Pós graduação Memória em adulto e idoso no Hospital Sírio Libanes
Formação em Brainspotting faz parte da Associação Brasileira de Brainspotting
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